Nesta seção você encontrará histórias das coisas.
No mundo inteiro a história dos museus se consolidou através da exposição de objetos de valores históricos, estéticos, artísticos, dentre outros, determinados, na absoluta maioria das vezes, por uma elite política, econômica ou religiosa que ditava, e ainda dita, aquilo que deveria ou não possuir valor para estar em um museu.
Isso vem mudando.
Ao redor de todo planeta, comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas, campesinas, trabalhadoras, e outras mais, estão mostrando que SUAS VIDAS E OS OBJETOS RESULTANTES DESTAS VIDAS TÊM HISTÓRIA, tão, ou até mais importante do que muitos objetos “valiosos” que existem em museus ao redor do mundo e que diversas vezes representam uma parcela minúscula da população - a parcela que roubou, matou e explorou o trabalho humano para produzir itens que são considerados de luxo, de valor estético, de valor histórico...
NOSSAS COISAS SÃO NOSSAS HISTÓRIAS, estão repletas de esforço, amor, dor, espiritualidade, alegrias e tristezas... estão repletas de vida, de cotidiano de pessoas comuns, das pessoas de verdade, a maioria da população, que trabalha, que caleja as mãos, que sua, que transborda e materializa suas vidas nos objetos que fazem parte do seu dia a dia.
Conheça um pouco o que essas coisas falam, E COMO ELAS CONTAM AS NOSSAS HISTÓRIAS.
Coisas que Falam
sou uma bicicleta histórica
Sou uma bicicleta histórica, ahh, sou sim! Porque a história, antes, e até mais do que ser feita dos nomes que ganham fama nos livros, é feita de suor, de lágrimas e de alegrias!
Carrego histórias.
Em especial, carrego as histórias do senhor Antônio Ferreira de Sousa, o vaqueiro que saiu lá do Pernambuco, para vir fazer a vida aqui na nossa Teresina.
Fazer a vida. História é vida. História é labuta diária, que se confunde com o pedalar ligeiro, e com o pedalar cansado.
Pedalar que se infiltrava nas veredas ainda bem verdinhas que existiam entre a nossa tapera da Av. Boa Esperança até as olarias do Poti Velho. Percorri as veredas de chão, cheias de pedras no caminho, mas cheias de belezas, encantos e encantados. Depois veio o asfalto duro, liso pra correr... correr... correr... a vida correu mais, as mãos no meu guidão trabalharam mais, os pés calejaram mais. O asfalto não é tão fácil quanto dizem.
Carreguei histórias e mais coisas cheias de histórias, como os “jacar” trançados pela experiência de outras mãos também calejadas de trabalho.
Carreguei tijolos.
Tijolos
Tijolos
Tijolos, um a um, um sobre o outro foram engrandecendo Teresina, construindo Teresina, “urbanizando” Teresina.
Eu também construí Teresina, saindo lá da minha Zona Norte, bem de onde essa cidade nasceu.
Eu também alimentei Teresina. Seu Ferreira de Sousa levava o quiabo, o feijão que era, e ainda é, produzido às margens do Parnaíba, nos quintais da Av. Boa Esperança, para ser vendido lá no Mercado São Joaquim. E quando ele voltava, cansado de tanto pedalar, trabalhar, ainda tinha tempo para ser feliz! Colocava a criançada na minha garupa, para tirar sorriso infantil em cima das minhas rodas...
Pois é, roda, uma das primeiras grandes invenções desta tão afamada humanidade. Pois carrego duas! Duas rodas bem gastas de tanta história.
Alguém aí duvida que não sou também patrimônio de museu?